Há 50 anos, a era da exploração robótica do nosso sistema solar estava somente começando. Em julho de 1965, a sonda espacial Mariner IV enviou à Terra dados mostrando que Marte não tinha vegetação, muito menos canais cruzando o planeta, como imaginado pelas gerações anteriores de astrônomos. O New York Times opinou que Marte era “O Planeta Morto“, com chances para a vida de qualquer tipo serem “infinitésimas“.
Carl Sagan, astrônomo e cientista famoso, perguntou “por que a imprensa tão rapidamente deduziu que Marte não tinha vida?” A resposta, ele escreveu, era um senso de “alívio“. Ele afirmou que “descobri vida além da Terra – particularmente vida inteligente – abala nossa esperança secreta de que o Homem é o ápice da Criação”. O significado da possível descoberta de vida extraterrestre, conclui Sagan, é “muitas coisas para muitos homens“.
No início desta semana, Stephen Hawking, físico teórico e cientista famoso, junto com o bilionário russo, Yuri Milner, anunciaram que eles estariam lançando um novo projeto para aumentar os esforços da procura por vida inteligente fora do nosso sistema solar. Milner, que está financiando o projeto, disse que ele tinha estado “pensando sobre isto, desde que era criança, lendo um livro de Carl Sagan“.
Ao escutar sobre o novo projeto, chamado Breakthrough Listen, fui relembrado de uma recente fuga de prisão. No mês passado, dois encarcerados assassinos fugiram de uma prisão em Nova Iorque. Eles despenderam meses planejando cuidadosamente e executando sua fuga, a qual envolveu cortes e escavações através de paredes, canos e concreto. Notavelmente, porém, a dupla não pensou muito no que iriam fazer se seus planos obtivessem sucesso. A consequência da falta de planejamento foi um curto esforço para escapar das autoridades, seguido da morte de um deles e a recaptura do outro pelas autoridades.
A procura por vida extraterrestre compartilha algumas similaridades. Estamos investindo atenção e recursos consideráveis nessa procura, mas pensando pouco sobre as consequências de sucesso. Como Carl Sagan imaginou, é como se esperássemos falhar, o que seria um alívio. Até mesmo Milner diz, “É muito provável que não encontraremos nada“. Mas o que ocorreria se obtivéssemos sucesso? E daí?
Vamos ser francos, falar sobre alienígenas pode ser visto como algo estranho, até mesmo entre acadêmicos, onde estudamos todas as formas de coisas estranhas. Uma pesquisa no Google por “vida extraterrestre” retorna somente 15.000 links, a vasta maioria deles são sobre “procura”. Em contraste, “geneticamente modificado” retorna mais de 800.000, “nanotecnologia” quase 900.000 e “mudança climática” mais de 1,6 milhões. (Todas as procuras em inglês.)
Avaliando as tecnologias e suas implicações para a sociedade é claramente importante, mas parece que temos um pequeno ponto cego quando se trata da possibilidade de sucesso de projetos como oBreakthrough Listen. Assim, o que deveríamos fazer ao invés disso?
Felizmente, desenvolvemos várias instituições e mecanismos para discussão entre especialistas e o público, sobre tópicos de ciência e tecnologia. Um dos líderes nesta área é o Instituto Rathenau (antigamente chamado de Organização Holanda para a Avaliação de Tecnologia), na qual o governo holandês depende “para contribuir ao debate público e ajudar a formar a opinião política sobre tendências em ciência e tecnologia“. A Europa, em particular, é o lar de uma gama impressionante de organizações de avaliação da tecnologia.
Todavia, eu encontro pouquíssima evidência de que essas instituições, e suas contrapartes nos EUA e no Reino Unido, têm devotado muita atenção para as implicações sociais, políticas e culturais da descoberta de vida extraterrestre. Como na literatura científica de forma mais geral, quando a atenção é focada neste tópico, ela enfatiza os desafios da detecção, mas não as consequências. Uma exceção notável foi a discussão ocorrida em 2010 pela Sociedade Real (Reino Unido) e a subsequente edição especial do periódico sobre “A detecção de vida extraterrestre e as consequências para a ciência e a sociedade (The detection of extra-terrestrial life and the consequences for science and society)”.
Os políticos tendem a se manter afastados de falar sobre alienígenas… por razões óbvias. As Nações Unidas brevemente abordaram o assunto de vida extraterrestre em 1977, mas deixou o assunto para trás desde então.
Após a reunião da Sociedade Real em 2010, a Diretora de Assuntos do Espaço Sideral da ONU, Mazlan Othman, categoricamente negou que ela seria a pessoa “leve-me para o seu líder”, caso a Terra fosse contactada por formas alienígenas de vida. Parece soar um pouco tolo, mas quando pressionada, Othman estressou que não sabia qual papel ela desempenharia.
De fato, parece improvável que qualquer elaborador de políticas no cenário nacional e internacional teria um plano claro para reagir à descoberta de vida extraterrestre, seja de micróbios em outro corpo de nosso sistema solar, ou seja alienígenas tentando nos invadir. A conversação é somente tola se presumirmos que nossos esforços para a detecção de vida alienígena nunca terá sucesso.
Tomar uma boa decisão tipicamente envolve a exploração das consequências das incertezas e das áreas de ignorância. Talvez não seja surpreendente que os melhores tratamentos das consequências da descoberta de vida alienígena venha da literatura popular e de Hollywood. Ficção e filmes podem ser essenciais para nos ajudar a explorar e discutir as consequências de tecnologias que não existem, ou descobertas que ainda irão ocorrer. Mas eles não são substitutos completos para uma discussão mas abrangente pela sociedade.
O século XXI é um no qual a ciência e a tecnologia estão forçando muitas conversações importantes entre peritos e o público por toda a sociedade civil. Os sistemas de energia, as tecnologias agrícolas, as doenças, os eventos extremos e desastres, o terrorismo, a inteligência artificial, a edição de genes, a biologia sintética… a lista parece não ter fim. Deveríamos também estar conversando sobre as consequências da descoberta de vida extraterrestre à sociedade?
Minha resposta é a mesma que eu aplico às outras áreas de investigação e invenção. Já que estamos procurando, deveríamos estar discutindo as consequências do sucesso desta procura. Se descobrirmos vida alienígena não acabaríamos mortos ou capturados, como os dois fugitivos de Nova Iorque, mas estaríamos preparados para a possibilidade de sucesso, se considerarmos o sucesso possível.
Devido as profundas implicações da descoberta de vida além da Terra, é uma ação irresponsável embarcar na procura sem um esforço paralelo para ajudar a sociedade a preparar para o sucesso deste esforço, ou mesmo para as implicações dos fracassos continuados.
-Roger Pielke Jr.