Por Júlio Ottoboni –
O que pode ser um dos maiores achados da história pré colombiana em território nacional é negligenciado há 10 anos pelas autoridades. Desde 2003, pesquisadores tentam descobrir a origem das ruínas de pedra em Natividade da Serra, nos limites com o Parque da Serra do Mar, no trecho paulista. O arquiteto especializado em arqueologia arquitetônica, Carlos Gomar, acredita que a idade do achado beira a casa dos 2 mil anos e o tratamento das pedras são muito similares as construções dos Incas ou até mais antigas, como as existentes em países orientais.
Na tentativa de preservar o local, que vem sendo destruído em busca de objetos de valor e até mesmo pela remoção das imensas rochas trabalhadas para servir de adereços decorativos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi acionado. Para a surpresa dos pesquisadores, o órgão federal disse que o lugar é apenas um amontoado de pedra sem qualquer valor histórico, contradizendo tudo que já foi registrado no lugar, mesmo que de maneira precária.
“Os tipos de corte nas pedras , blocos , lajes e arquitraves são em proporções, medidas e tratamento das superfícies, similares às efetuadas nas áreas andinas de influencia incaica anterior os descobrimento das Américas. No entanto, todas as hipóteses só poderão ser comprovadas ou descartadas se escavações forem feitas.Também devemos admitir a possibilidade de haver outra hipótese, a de que o sítio seja algo sem nenhuma relação com a época colonial nem a cultura andina”, alertou Gomar.
O historiador, pesquisador e autor de diversos livros sobre culturas americanas pré-colombianas, Luiz Galdino, visitou o local e ficou espantado com o que viu. A conclusão obvia é que aquilo não é obra dos indígenas brasileiros e muito menos um fenômeno natural. “São evidentes os entalhes nas pedras para os encaixes, há um paredão destes tijolos sobrepostos, inclusive marcas das ferramentas nos granitos. Isto é algo muito antigo e sem registro no país até agora”, observou.
Os primeiros relatos desta construção chegaram as mãos do geólogo e arqueólogo amador, Paulo Roberto Martini, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 2003. As escavações feitas pelo dono da Fazenda Palmeira, em que se encontra as ruínas, tiveram início em 2002 e mostrou a existência de uma sólida estrutura formada por imensos blocos de granito trabalhados e polidos. Foram feitas pelo dono algumas fotos e enviadas a entidade na busca por alguma informação, na época se achava inclusive que se tratava de uma pirâmide.
Martini chegou a uma conclusão inicial, depois de elaborar um extenso relatório sobre o que encontrou no local. Essa composição de rochas foi feita pelo homem. O monumento foi descoberto por acaso e esses blocos são de um afloramento rochoso que inexiste na região, então foram transportados para lá. São imensas pedras cortadas e empilhadas na forma de degraus até seu topo, amparadas por monolitos enterrados na vertical.
“Ainda é cedo para afirmar algo de concreto, mas estamos diante de uma construção feita por uma civilização primitiva avançada. Esse tipo de rocha é de origem vulcânica e se forma com os primeiros derrames de lava no fundo do oceano, quando se dá início a formação das cadeias montanhosas. O tipo de entalhe das pedras é muito próximo ao utilizado pelas civilizações pré-incaicas, que habitaram os Andes”, reforçou o cientista.
Outro fato que causou indignação e estranheza nos pesquisadores. O Iphan deu um laudo para o proprietário da fazenda autorizando a continuar o processo de derrubada das ruínas e impedindo que se pesquisa a área. Há fortes indicativos que nenhum técnico da instituto federal tenha sequer ido ao local vistoriar o sítio arqueológico. A fazenda pertence a um bem sucedido médico de São Paulo, que passou a vascular o lugar com um trator de esteira na busca por peças de ouro.
“Mandei o relatório para o Iphan via sedex e confirmei sua chegada na terça feira dia 6 de novembro do ano passado à superintendência do IPHAN-SP. Foi mandado aos cuidados da arqueóloga e arquiteta Marise Campos de Souza. Tentei falar com ela diversas vezes.Compreendo que o Iphan recebe todo tipo de processos, incluindo aprovações de edificações em áreas de preservação, processos de tombamento e de muitos outros tipos. Fica claro que eles não sairão correndo por uma coisa a mais. Eles não devem ter gente suficiente nem disposta a se mobilizar a qualquer momento”, alerta Gomar, que tem feito visitas periódicas ao local e visto a degradação acentuada por que passa o sítio.
O Ministério Público de Taubaté, que cuida da área de Natividade da Serra, se interessou pelo assunto, pediu auxílio ao Inpe, mas como não é especialidade do instituto a preservação do lugar não progrediu. Até o momento nenhum dos grandes órgãos de arqueologia do País e das universidades, inclusive a Universidade de São Paulo (USP), que foram acionados, tiveram sequer interesse em ir conhecer a área. O processo foi engavetado.
A resposta do IPHAN, via assessoria de imprensa em Brasília, acerca do sítio arqueológico de Natividade da Serra foi decepcionante. Não há sítio arqueológico em Natividade da Serra. O IPHAN já analisou e descartou a possibilidade de ser um sítio arqueológico, não havendo nada a ser preservado no local.
Para o órgão não há nada que diga ter havido interação do homem histórico ou pré-histórico com o conjunto de pedras notados ali. A resposta foi transmitida para a Assessoria de Imprensa em Brasília pelo Leonardo Falangola, assessor da superintendente em SP. Um paradoxo, pois não é preciso ser especialista para ver o volume de rochas simetricamente cortadas e que aquilo inexiste, mesmo no mais caótico dos sistemas.
“Pelo que sei e pelo que vi, há 90 % de chance do sitio de Fazenda Palmeiras ser uma exceção na arqueologia brasileira ao menos pelo que vi ate agora”, observou Gomar.
Muito além de ser um amontoado de pedras, esse sítio passou a ser ‘amaldiçoado’ pela academia e institutos, mas se tornou o mais novo mistério da arqueologia brasileira e coloca sob discussão a historia atual da ocupação do território brasileiro no período pré-descobrimento.
Basta ter contato com os milhares de blocos graníticos recortados e distribuídos na encosta de um morro para que surjam inúmeros questionamentos. Que cultura seria está ? Em quanto tempo fizeram essa edificação ? Por que e quando foi construída? Perguntas que dificilmente serão respondidas de pronto, mas que prometem gerar um turbilhão de dúvidas, polêmicas e especulações.
O local fica próximo a um riacho, que poucos metros a frente deságua no Rio Paraibuna. Os imensos blocos graníticos, cortados com precisão, continuam parcialmente empilhados. Com o tempo acabaram por perder o traço construtivo original, mais inclinado e no formato de uma grande escada ascendente. Os imensos tijolos podem ser visto na superfície.
Uma boa parte se encontra soterrada pela erosão e outra ainda sustenta a estrutura em largas paredes. Vários, porém, se deslocaram com a ação do tempo. As chuvas e o peso das rochas recalcou o terreno, fazendo-os escorregar ou mesmo criar pequenos empilhamentos. O dono do local também mandou que aterrassem os blocos com o uso de tratores, para espantar estudiosos e curiosos. Soterrou, assim, grande parte das respostas e provavelmente de um dos sítios arqueológicos mais promissores de todo Brasil.
Em 2004, bastava remover um pouco da terra acumulada para se desvendar uma complexa armação de rochas esculpidas. As pedras, geralmente em formato retangular, variam de 1 a 2 metros de comprimento, de 0,40 a 0,70metro de espessura por 0,80 a 1 metro de largura. Foram assentadas bem unidas e os vãos – quando existiam – foram completados com pedras menores e fixadas por uma mistura de barro, semelhante a argamassa.
Duas faces do monumento estão recobertas pela mata. Nestes locais se encontram centenas de pedras, tendo as raízes das árvores tendo movimentado diversas delas. Numa tentativa de desvendar maiores detalhes do monumento, uma das faces acabou sendo alvo de escavações sem qualquer critério feitas pelos empregados da fazenda, incluindo a remoção de grandes pedras com o uso de tratores de esteira. A lateral da esquerda ainda não foi mexida.
Entretanto, outro aspecto intrigante está nos ecos que podem ser provocados. As batidas de um vergalhão de ferro dentro dos buracos que surgiram é possível ouvir a ressonância.
Provavelmente o efeito do som refletido numa câmara existente no interior da estrutura do muro. Usando a barra de ferro como instrumento improvisado foi capaz também de se ter uma noção da largura da parede. Provavelmente ela ultrapasse a um metro.
Técnica desconhecida
Entretanto, o intrigante é que essa região era habitada pelos índios Tamoios, que desconheciam a tecnologia empregada no corte de blocos de pedra e sequer tinham a tradição de criar monumentos neste estilo. Segundo moradores do lugar, outras construções semelhantes se encontram numa propriedade vizinha. Essas, porém, estão recobertas pela Mata Atlântica e o acesso é dificultado pela densa vegetação.
As primeiras imagens deste monumento foram encaminhadas ao INPE pelo proprietário da Fazenda Palmeiras, o médico paulistano Carlos Frahya. As fotos chegaram no final do ano de 2003 ao pesquisador Paulo Roberto Martini. Uma surpresa enigmática, que passou a ser alvo de estudos do cientista. E como qualquer mistério, quanto mais se pesquisa maior é o crescimento das dúvidas. “A textura das pedras é diferente, principalmente em alguns locais da edificação”, comenta o geólogo.
Segundo Martini, o tipo de rocha encontrada no local tem cerca de 2 bilhões de anos e fazem parte do Complexo de Varginha. Essa formação natural se estende pela Serra do Mar, começando nas proximidades de São Paulo seguindo até a Serra da Bocaina, na divisa com o Rio de Janeiro, e adentra a porção fluminense. Porém sua largura é pequena, alcançando algo próximo a 6 quilômetros. “Uma explicação geológica seria a erosão ter chegado à raiz das montanhas e provocado esse afloramento granítico, mas não há como explicar os cortes e a disposição das pedras”.
Ou mesmo dos fenícios, que eram exímios navegadores e utilizavam grandes marcos de pedras para que grupos de sua mesma cultura pudessem se orientar tanto no mar como em terra, como supôs alguns estudiosos que estiveram no local, embora sem condições de se aprofundar nas análises das formações construtivas.
Como Natividade da Serra é situada dentro do eixo Rio-São Paulo, os indígenas encontrados na época do descobrimento nesta região só usavam pedras para ponta de fechas, arpões e machadinhas. “Até o momento não há registros que esses povos nativos fizessem monumentos de pedras entalhadas, principalmente usando grandes e pesados blocos”, salienta o cientista.
Em suas pesquisas, Martini descobriu em manuais de sensoriamento remoto (sistema que produz imagens da superfície do planeta a partir de satélite) semelhanças na formação de Natividade da Serra com outras construções de culturas primitivas avançadas, que habitaram o próprio continente americano. “Os monumentos de sinalização do Novo México são muito parecidos com esse encontrado aqui”, afirma.
Mistério reforçado
Na tentativa de evitar algum aspecto meramente especulativo, o geólogo chega a uma conclusão óbvia. “Não há dúvida que aquilo é algo muito antigo e feito pelo homem”. O cientista foi buscar outras informações no Manual sobre Arqueologia Brasileira e pode constatar que o uso das rochas cristalinas pelo indígena brasileiro é desconhecido. Embora existam as edificações nas Reduções Jesuíticas, no Sul do país.
“Mas lá se trata de arenitos. A típica cultura rochosa-granítica conhecida na América do Sul é a dos Incas”, observou.
Entretanto, outra formação encontrada na altura da entrada da estrada de Salesópolis, que liga a Rodovia dos Tamoios, no litoral norte paulista até a região metropolitana, foi identificada em pesquisas anteriores feitas pelo INPE a ocorrência de granulitos, rochas muito antigas compatíveis com aquelas próximas do cume da Serra da Mantiqueira.
A dúvida agora é saber se há ligação entre a possível pirâmide com outros monumentos e formações encontradas. “Não sei ainda se ela poderia estar alinhada com o que encontramos próximo a Tamoios ou se há ligação entre elas, apesar de estarem relativamente bem próximas”, comentou Martini.
A descoberta desta possível pirâmide reabriu a discussão sobre a presença dos Incas no território brasileiro. Eles teriam percorrido um caminho entre os Andes e a costa atlântica, conhecido como Peabiru.
Essa antiga estrada e seus ramais cortavam os territórios atuais dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Um possível elo entre ambas ocorrências tem surgido como lógica aos pesquisadores, que dão agora seus primeiros passos para desvendar esse mistério.
Visitantes levaram pedras do local
Ao longo dos meses após a descoberta, feita em agosto de 2002 pelos funcionários da fazenda, houve uma verdadeira romaria de curiosos ao lugar. Segundo os empregados, diversas pessoas ficavam vasculhando horas em meio às ruínas e nos arredores. Alguns grupos chegaram a movimentar blocos, promover pequenas escavações e até mesmo levar pedras entalhadas menores que cabiam no porta-malas dos carros.
A justificativa dos visitantes para retirar elementos da ruína beira ao ridículo. Numa ação bem próxima ao vandalismo, essas pessoas buscavam recolher os blocos de corte mais preciso para levar.
Nesta falta de consciência preservacionista, o cenário não podia ter piores atores. Todos os saqueadores eram de classe média alta e com alto grau de instrução, segundo o ex- capataz da fazenda, Paulo Antônio Morais. E ainda obrigavam os empregados a ajudar nas remoções.
“A maioria era amiga do patrão”, explica. “Teve gente que saiu como carro cheio de pedra dizendo que se isto aqui for uma pirâmide mesmo elas vão ficar ricas”.
De acordo comos moradores do Bairro das Palmeiras, onde se localiza a fazenda, o dono do lugar é o médico Carlos Frahya, bem sucedido profissional liberal, morador em São Paulo, Ele visita com certa regularidade a fazenda e depois do insucesso de encontrar ouro no lugar, agora pensa em tornar as ruínas uma atração turística. “Eu e outros colegas estamos tentando juntar as pedras que o trator tirou para acertar de novo a pirâmide”, confessa o empregado Paulo Morais.
Mais uma” boçalidade arqueológica”, como define os rumos das coisas o arquiteto e arqueólogo arquitetônico – um dos únicos do país, Carlos Perez Gomar. “ Desta vez veio com selo oficial”. O alerta sobre o achado foi enviado para diversos veículos da grande imprensa, nenhum deles se interessou pelo assunto. Além da representação da UNESCO no Brasil, Presidência do IPHAN, Prefeitura Municipal de Natividade da Serra etc.
“Estivemos estudando e levantando dados sobre o sitio de Fazenda Palmeiras durante quase dois anos fomos ao local somando cinco dias e fizemos um relatório com muitas fotos e enviado ao IPHAN-SP em 5 de novembro de 2012. Já que o IPHAN-SP não parece saber , a um conjunto de pedras aparelhadas e dispostas de maneira racional chama-se de ruína. E “geralmente” é obra humana. Parece que estamos tentando entender a lógica de um extraterrestre!! Ou será burrice extrema?”, indignou-se o pesquisador, que em uma pequena escavação encontrou diversos objetos de produção humana.
O caso se complica quando se compõe o elenco que estudou o sitio da Natividade da Serra. O geólogo do INPE e um dos mais conceituados cientistas em sensoriamento remoto ( responsável por descobriu ser o Amazonas o maior rio de mundo em extensão), Paulo Roberto Martini, fez um relatório detalhado explicando porque aquelas pedras são obra humana ,um pesquisador considerado como dos mais importantes especialistas em pictografias, Luiz Galdino, esteve no local e afirma que o sitio é pré- colombiano. E finalmente Carlos Gomar, um arquiteto com 40 anos de experiência na área de patrimônio cultural e arqueologia reforça em suas várias visitas e prospecções que o sitio é pré-colombiano.
“Depois de ver as fotos do local teríamos que admitir algumas hipóteses, no mínimo. O IPHAN-SP não verificou nada, ou então o IPHAN-SP tem técnicos não só incompetentes, mas com problemas seriíssimos de visão, não só de olhar mas também de enfoque .Ou os que deram esta resposta estão comprometidos com algum assunto que não pode ser revelado”, levanta a suspeita Gomar.
Curiosamente o proprietário da área depois de escavar , achar um muro de 15 metros de comprimento e 3 de altura em cantaria sem argamassa soterrado, e muitas mais pedras aparelhadas ,o destruiu em parte e enterrou o resto. Existem testemunhas no local que trabalharam nessa escavação. Nas ruínas foi achado um vaso de cerâmica, machados, pontas de flecha e de lanças entre outros objetos.
“O IPHAN-SP condenou este sitio à morte. Os participantes deste engodo são criminosos, trata-se de um crime de lesa pátria”, reclamou o arquiteto.
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* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, pós graduado em jornalismo científico. tem 30 anos de profissão, atuou na AE, Estadão, GZM, JB entre outros veiculos. Tem diversos cursos na área de meio ambiente, tema ao qual se dedica.
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