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terça-feira, 3 de março de 2015

O português que falava com ETs



Foi ridicularizado pelos jornais e ignorado pelos cientistas, mas nunca deixou de acreditar que nos outros planetas havia vida inteligente – e que os aliens comunicavam com ele.

Eram anos em que havia quem acreditasse que através da telefonia sem fios, recentemente inventada por Marconi, era possível estabelecer contacto com Marte. 

Os mesmos em que se urdiam planos para cobrir parte do deserto do Saara com espelhos e assim enviar mensagens de luz em código morse para lá da Terra, e em que o fascínio por extraterrestres (ETs) era tão grande que multidões de leigos se juntavam na rua para observar planetas através de palhinhas.

Em 1914, no Algarve, Joaquim Reis Varela, então com 22 anos (nasceu em 1892), lia tudo o que saía na imprensa sobre o assunto e corria as bibliotecas da zona em busca dos poucos livros até então publicados acerca do tema. 

"Alfabetizado era, mas calculo que não tivesse mais do que a 4ª classe. Era um autodidata, publicou vários artigos, sobretudo no jornal da Voz do Operário, e dá para perceber que não se informava só pelos jornais. Estou convencido de que leu todas as obras de Camille Flammarion, enquanto astrónomo e doutrinário do espiritismo – nota-se a influência", diz à SÁBADO Joaquim Fernandes, do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, que nos últimos anos tem investigado a vida daquele que descreve como o "primeiro português a tentar estabelecer contatos telepáticos com outros mundos".


Ridicularizado e ignorado


Às 22h de dia 20, sábado, passaram exatamente 100 anos desde que este homem misterioso (terá vivido algum tempo em Lourenço Marques, Moçambique, de onde regressou sozinho, aos 19 anos, com 1$18 no bolso, hoje cerca de 25 euros) subiu pela primeira vez com um grupo de amigos a São Bartolomeu de Messines, entre as serras de Monchique e do Caldeirão, para comunicar com seres de outros planetas. 

"Supostamente obtém sinais luminosos, uns azuis, outros verdes, que remete para planetas diferentes – Urano e Mercúrio. Dizia que eram expedidos no espaço pelos aviadores de outros mundos", explica Joaquim Fernandes, que publicará, em Abril de 2015, História Prodigiosa de Portugal. Magias & Mistérios, com um capítulo dedicado a Reis Varela.

Nos anos que se seguiram, o homem continuou a avistar estrelas, a ter visões e a comunicar com seres que considerava de inteligência superior – os marcianos seriam os mais evoluídos, escreveu na Voz do Operário e n’A Luz do Progresso, jornal que fundou em 1930 como "órgão oficial do serviço de comunicações interplanetárias". Publicou dois livros.

Pediu a várias academias de ciências europeias que o acompanhassem à serra para testemunhar os seus contatos. Nunca apareceu ninguém. 

Na imprensa, sobretudo no republicano O Século, era castigado sempre que anunciava nova chamada para o sistema solar:  "Está em Lisboa o homem que fala com os astros e vamos ter, em breve, outra revolução!" Depois desapareceu. "O último sinal de vida que tenho dele é de Outubro de 1931, teria 39 anos. Não sei se sobreviveu mais algum tempo…"

Astrônomo e espírita

Surgiu em África o interesse por seres de outros planetas. O biógrafo Joaquim Fernandes não apurou o que levou Reis Varela a Moçambique, mas sabe que foi lá que surgiu o interesse pela comunicação interplanetária. No regresso a Lisboa, sozinho e sem dinheiro, dormiu em bancos de jardim e passou fome. Depois foi ajudante na Farmácia Lopes, em Paço de Arcos. 

Fonte: Sábado

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